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Foto 1 |
Cabeço de Montachique é uma freguesia dividida por dois concelhos, o de
Loures e o de Mafra, e que a sua história é bastante antiga. Dos
diversos apontamentos que encontrei, refere-se que esta localidade foi
uma das povoações em que o Conde de Bonfim colocou vigias defensivas
face à batalha de Torres Vedras em 1864, fazenda parte da 2ª linha do
sistema defensivo, a par com Ribas e Picotinhos.
Já no período que ficou conhecido como Guerra Civil Portuguesa ou
Guerras Liberais (1828-1834), valerá a pena mencionar que, em 1833, ao
aproximar se de Lisboa, onde mal conseguiu entrar, D. Miguel faz uma
proclamação ao povo, a partir do Paço em Cabeço de Montachique, em 2 de
Setembro de 1833, seguindo no mesmo dia com o quartel general para
Loures, onde publica na Ordem do Dia uma segunda proclamação, desta vez
ao seu exército.
De salientar também, que as águas provenientes de Cabeço de Montachique
eram no século XVIII conhecidas para efeitos terapêuticos (Anemias,
anémorreias, nevroses -Contreiras, 1951), sendo caracterizada por ser
Sulfatada cálcica, ferruginosa (Contreiras, 1951). Foram mencionadas na
Memória do médico João Nunes Gajo, e apresentada à Academia das
Ciências em 1780.
Guilherme Eschewege na sua Memória Geognóstica, ou golpe de vista da
estratificação de diferentes rochas, de 1831, classifica estas águas
como águas férreas e diz haver várias nascentes. (cit. Acciauoli
1944/II,127 ) O deputado Tavares Macedo apresentou às cortes, na sessão
de 20 de Julho de 1839, a proposta “… que o governo seja autorizado
para dar à sociedade Pharmaceutica um conto de reis para trabalhos
chimicos, especialmente a análise de águas mineraes […] vamos dar uma
prova e estima a uma sociedade muito importante, uma sociedade que está
fazendo grandes estudos, o que vai fazendo muita honra ao nosso
Portugal”. Transformada em lei a 31 de Julho de 1839, a Sociedade
Farmacêutica Lusitânia realizou ainda nesse ano a análises das
nascentes nos arredores de Lisboa : Casal de Barras; Vale de Camarões;
Quinta da Sadinho; Quinta dos Ribeiros; Quinta do Botão de Baixo;
Cabeço de Montachique; Venda Seca e Vale de Lobos. Sendo que, sobre as
nascentes em Cabeço de Montachique, escreveu Lopes (1892): “ há várias
nascentes de água férrea, sendo a mais importante a da Estrada junto do
chafariz” (
Foto 6).
Aqui, era possível observar diversas espécies de aves, como por
exemplo; a carriça, o gaio, a perdiz, o tentilhão e o mocho-galego.
Entre os anfíbios, encontravam-se a rã-verde, o sapo, a
salamandra-de-costas-salientes e o tritão-de-ventre-laranja, e nos
répteis a cobra-rateira, o cágado, a lagartixa-do-mato e o sardão e
mamíferos como o coelho bravo, a doninha e o texugo. Não é de estranhar
por isso, que nos finais do século XIX e início do século XX, Cabeço de
Montachique, tivesse sido uma importante estação climática, muito
procurada pelos tuberculosos de poucos recursos devido aos seus “bons
ares”. Esse fenómeno deveu-se em parte, à propagação epidémica da
tuberculose, que ocorria por toda a Europa nessa altura. E embora a
vacina tenha sido criada por volta de 1906, não foi devidamente
disseminada até ao final da metade do século XX. Esta, aliada à melhoria
significativa das condições da saúde pública levou a que a mortalidade
aliada à tuberculose descesse a pique até aos dias de hoje. Mas
enquanto a medicina não evoluía e o mundo assistia atónito à
disseminação desta doença respiratória e contagiosa, com maior
incidência entre as classes mais pobres, eram precisas alternativas.
Criaram-se então sanatórios, estabelecimentos que atingiam proporções
dignas de autênticas prisões e que eram dedicados ao isolamento e
tratamento da doença (apesar dos benefícios do “ar fresco”, 75% dos
doentes internados nestes sanatórios acabavam por morrer no prazo de 5
anos, segundo dados de 1908). Assim, e dentro deste contexto, bem como,
a localização geográfica de Cabeço de Montachique face a Lisboa,
verifica-se com normalidade e fatalidade necessária, o papel importante
que esta localidade assumiu nos cuidados de saúde contra a
tuberculose. Chegaram a existir, nesta área, pelo menos 5 estruturas
deste tipo. Dessa época destacam-se; o Sanatório Grandella (ou
Albergaria) no sopé do monte – junto à Estrada Nacional N.º 374 – que
nunca foi concluído, a antiga Casa de Saúde Guedes (na Rua Dr. João
António Oliveira Assunção), a «Casa da Bela Vista» (com outro nome -
hoje em ruínas, no topo do monte da Bela Vista) e a
Quinta de S. Gião (pertença do Ministério da Saúde, que albergou o Antigo Centro Psiquiátrico de Recuperação de Montachique).(
Fotos 1, 2, 3, 4)
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Foto 2 |
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Foto 3 |
O crescente movimento de pessoas, que procuravam em Cabeço de
Montachique o ar puro e a cura para as suas maleitas, trouxe consigo
uma panóplia de pessoas (que vieram em busca de trabalho e por
conseguinte, de condições económicas mais favoráveis) e um conjunto de
ferramentas de apoio (necessários a toda uma estrutura inerente aos
doentes infecto-contagiosos - tuberculose). Este facto trouxe consigo
um crescimento exponencial de habitantes (mas também aumentou o risco
de contágio com a população) e de infra-estruturas. O curioso, é que
muitos dos doentes da altura, acabaram por constituir família com as
pessoas, que os tratavam, tendo permanecido na região até aos dias de
hoje.
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Foto 4 |
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Foto 5 |
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Foto 7 - Ponto mais alto de Cabeço a 408 m de altitude |
Boa noite, é possível informar-me qual a bibliografia que teve como base para a escrita deste texto?
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