Cruzeiro |
Local onde consta que Cristo aparecia |
Sepulturas cravadas na rocha |
Altar com a imagem de Cristo, Senhor da Boa Morte |
Ermida do Senhor da Boa Morte |
O Monte do Senhor da Boa Morte foi, durante toda a Idade Média, o núcleo central da vila de Povos, até à sua definitiva deslocalização para o sopé do monte, já no século XVI, aproveitando as melhores condições da proximidade do rio e da passagem da estrada real.
As escavações arqueológicas que, ao longo da última década e meia, aqui se vêm realizando revelaram um passado muito mais rico do que se supunha. Ao que tudo indica, a primeira ocupação deste monte dominante teve lugar no final do período romano, por volta do século IV (PARREIRA, 1987-88), numa fase já tardia da história da villa romana de Povos, localizada junto à Escola Velha desta localidade e no sopé do Monte da Boa Morte. De acordo com alguns autores, esta ocupação tardia relaciona-se, mesmo, como uma transferência da população da villa (BANHA, 1992, p.53), em circunstâncias ainda desconhecidas, mas que não se devem afastar muito do clima de progressiva incerteza que caracteriza os derradeiros tempos do Império romano do Ocidente.
Informações mais concretas acerca da história deste local datam já do período islâmico, escapando-nos, por completo, os tempos de dominação visigótica, época de que não foram identificados quaisquer materiais (LUCAS, 2000, pp.19-21). As escavações realizadas por Cristina Calais Freire dos Santos, junto à muralha, puseram a descoberto níveis de construção califal, de que é exemplo um provável espaço de cozinha associado a espólio cerâmico e a elementos decorativos contemporâneos (BANHA, 1997, p.81). Parece ter existido, todavia, uma fase anterior, emiral, menos conhecida e de carácter habitacional, posteriormente reformulada no século X (SANTOS, 1997, p.63). A ocupação islâmica, de resto, testemunha-se até à sua derradeira fase, identificando-se numeroso espólio cerâmico característico da transição para o século XII (IDEM, p.65).
Mas a mais importante realização islâmica neste sítio foi a construção de um castelo, cuja "taipa compacta" e outros dados das sondagens apontam para uma obra omíada (CATARINO, 2000, p.45). Os poucos vestígios deste reduto defensivo foram já atribuídos ao período pós-Reconquista (CORREIA, 1924, pp.188-189) mas, a verdade, é que o troço de muralha que se conservou, a par de outros dados das escavações, comprovam a importância do sítio em época islâmica, ombreando mesmo, em termos administrativos, com os castelos de Alverca e de Alenquer (CATARINO, 2000, p.46).
As conquistas de Lisboa e de Santarém, em 1147, determinaram a passagem de Povos para a esfera cristã. O espólio cerâmico identificado aponta para uma continuidade cultural de uma população ainda largamente islamizada e progressivamente cristianizada. Sintoma disso mesmo parece ser o foral tardio passado à localidade, em 1195 por D. Sancho I. Nesta altura, o monte foi objecto de uma intensa campanha de povoamento e ordenamento, de que restam alguns importantes testemunhos, como o cemitério de ar livre, escavado na rocha, composto por dezassete sepulturas antropomórficas, regularmente orientadas a nascente e que, na viragem para o século XIII, estariam tapadas, conforme se depreende pela "existência de cavidades para a colocação de estelas discóides", que assim assinalariam o local específico dos tumulados (FREIRE, 1992, p.35).
Da igreja a que este cemitério se associava, infelizmente, nenhum elemento chegou até nós. O templo que hoje domina o local e que, de há largas décadas, é o alvo preferencial de uma importante romaria local, tem como elemento mais antigo a sua capela-mor, que data dos primeiros tempos do século XVI. Dotada de robustos contrafortes e revestida por cúpula oitavada muito pronunciada, ela possui bases prismáticas tipicamente manuelinas e um gosto estético revelador do mudejarismo característico do reinado de D. Manuel (RIBEIRO, 2000, p.71).
Alvo recente de uma exposição, o sítio do Senhor da Boa Morte assume-se como um dos principais núcleos patrimoniais do concelho de Vila Franca de Xira.
PAF
http://www.igespar.pt/en/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70849/
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